quarta-feira, 29 de maio de 2013


Arco íris




Escuto de ti todas as manhãs de sol
que vivem dentro de meus sonhos mais loucos...
Não, nessa página não há inverdades...
Tudo que ouço dos teus lábios
cheiram a sândalo, a alecrim...
as maiores tristesas não me machucam,
antes, me permitem te abraçar,
e chorar contigo...
meu coração nunca sangra, quando estou contigo...
as sombras fogem de ti, tu que me trazes
o arco íris nos olhos...
nunca duvidei da felicidade
depois de te ouvir dizendo
que chove lá fora...
ou que o céu está cinzento...
tu és meu pedacinho de alegria,
o real encanto da palavra "amor"...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Noites Claras




Noites claras, desse céu teimoso
Que anda a alumiar nosso caminho,
Respondam-me, se houver alento aí,
O que me faz querer tanto assim
A flor do meu desejo ?
Irracional coração,
As mãos me prendeste
Na lida da pena e do papel
A escrever mil vezes que sim,
Eu a amo, eu a quero,
E minh’alma é um poço sem fim,
Descendo a corda do querer
A alguém distante, longe daqui,
Alma maldosa, no amor me invocaste
A amá-la, a minha amada,
Noites sem fim,
Como a mais clara das noites,
Que se me escutar
Há de se apiedar de mim...


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Nada como o amor

E assim, de repente, me peguei pensando em ti...
Quem nunca amou jamais entenderá isso...
O que é a alma humana sem amor, taça vazia...
Ao relembrar teus olhos, percebo que vivo...
Toda as maravilhas que conheci na Terra
Nem de longe se equiparam aos momentos
Que compartilhei contigo...
Nada suplanta o amor, nada, nem mesmo a morte...
Ele nada em nossos vasos, sustenta nossa substância,
Ele na verdade nos contêm...
Quem sabe o Criador não nos moldou
Em finas folhas de amor condensado ?
Quem melhor que ele para fazê-lo ?
Vejo amor em tudo apenas por que te amo ?
Não, amar é natural aos que te conhecem.
És doce como o pássaro da manhã,
E me encantas apenas por estar ao meu lado.
Pegaria tua mão em silêncio, e a paz reinaria em mim...
Pouse tua cabeleira em meu peito
E meu mundo seria cercado de paz...


"Disparada"

Assisti, emocionado, com um conhecido, ex-militar, a um videoclipe antigo, muito conhecido de quem se interessa por música popular brasileira nos anos 60, e também daqueles que estudam os movimentos populares durante o regime militar (1964-1985).
Trata-se da apresentação de “Disparada”, moda de viola composta por Geraldo Vandré e Theo de Barros, cantada por Jair Rodrigues no festival da canção da TV Record em 1966.
Coisa de cinco minutos, ficamos conversando algum tempo sobre o clima daquela época. Meu amigo, bem mais velho que eu,  afirma ter vivenciado os “anos de chumbo” com intensidade. Para mim, resta estudar em arquivos antigos as polêmicas, os conflitos, o silêncio forçado, as músicas de protesto, o fato de sair de casa “sem saber se voltaria”. E os jovens da época, cheios de idealismo, emoção, vontade de mudar uma realidade com o que estivesse à mão. Muito diferente da maioria dos estudantes de hoje, muito mais preocupados com as baladas e os feriados. Moro perto de uma universidade, e percebo que os estacionamentos ficam cheios às quartas e quintas, e bem vazios nos demais dias. Lembro-me do expediente no Congresso Nacional.
Chega de lamentar. Essa canção, uma das mais inspiradas de Vandré, é cheia de duplo sentido, fazendo uma comparação da vida do boiadeiro com a escalada de poder de um personagem, e sua relação com o povo, abaixo dele. Começa bem lenta, e ganha em emoção conforme vai se desenrolando, e, acompanhando pelo vídeo, é fácil perceber a empolgação do público e até de Chico Buarque, Nara Leão e Elis Regina, que estavam no palco. O contraponto era o posicionamento de vários guardas civis paulistas distribuídos entre o público, atentos a qualquer distúrbio ou palavra de ordem contra o regime. Ainda não se vivia o período negro do AI-5, mas já havia indícios de que aquela década não acabaria bem para o movimento estudantil. Chico, que comentei acima, apresentaria uma música concorrente “A Praça”, que disputaria os votos dos jurados palmo a palmo. Em todo o Brasil, pessoas apostavam que “Disparada” venceria o festival, outros, que “A Praça” sairia vencedora. No final, um empate entre as duas canções, e nada mais justo. Não faço idéia como as apostas se pagaram.
Surpreendo-me com os olhares, as expressões, quase se percebe a febre que tomava conta desses garotos e garotas, dispostos a mudar um estado de coisas que sabiam ser totalmente injusto. Observando os jovens de hoje, imagino que falta alguma coisa, que algo se perdeu. Parece que a vontade de lutar ficou em algum lugar do passado, anos-luz distante de mim.
Terminei de assistir com uma lágrima correndo, que disfarçadamente colhi com o lenço. 
Lembro-me que uma professora me disse, anos atrás, que para o mundo ser um lugar melhor, antes terá que piorar muito.
Percebo que ela estava certa, e que o mundo mal começou a piorar...



Disparada




Letra de Geraldo Vandré
Música de Theo de Barros
Interpretação de Jair Rodrigues



Prepare o seu coração pras coisas que eu vou contar
Eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar
E a morte o destino tudo, a morte o destino tudo  
Estava fora de lugar, eu vivo pra consertar
Na boiada já fui boi, mas um dia me montei
Não por um motivo meu ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse, porém por necessidade
Do dono de uma boiada cujo vaqueiro morreu
Boiadeiro muito tempo, laço firme, braço forte
Muito gado, muita gente pela vida segurei
Seguia como num sonho e boiadeiro era um rei
Mas o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo
E nos sonhos que fui sonhando, as visões se clareando
As visões se clareando, até que um dia acordei
Então não pude seguir, valente, lugar tenente
E o dono de gado e gente, porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente
Se você não concordar não posso me desculpar
Não canto pra enganar, vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado, vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei, agora sou cavaleiro
Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei 

Na boiada já fui boi, boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse, por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu, querer mais longe que eu
Mas o mundo foi rodando, nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei, agora sou cavaleiro
Laço firme, braço forte, de um reino que não tem rei !

  



quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Pobre oração do andarilho

Nos vidros sujos dos ônibus, te vejo,
Por estradas esburacadas te procuro,
Em cidades onde nunca caberia um sonho,
Lá te procuro sem cessar...
Quisera saber onde te localizar,
Nem sei bem se dentro de mim,
Ou num dia triste, de chuva e frio,
Nunca sei bem onde estarás...
Ando, inconsciente quase,
De pés nus, mas de alma limpa,
Após sujar as mãos de lama por mil vezes,
Abandonando minhas certezas por loucuras sem tamanho...
Ah, essas certezas voam,
 inconsequentes, à procura da felicidade,
Que talvez nunca me seja dada,
Mas que, teimosamente irei buscar,
Nesse mundo imenso e besta aí fora... 


Hei...

Onde houver um mar,
Me obrigarei a te buscar,
Seja na aurora, no nascer do vento sueste,
Me obrigarei a te procurar...
Onde estarias senão lá,
Na imensidão inexplorada do sonho,
Ou numa curva qualquer da estrada longa,
Hei de te encontrar...
Alçar vôo sobre caminhos não percorridos,
E tu ali estarás,
Nas dobras dos meus desvaneios...
Num acontecimento banal qualquer...
Estás aqui, em cada pingo da tinta
Com que pinto meu mundo...
Em cada gota de sangue aguerrido...
Hei de te amar, em cada evento possível,
Até o final desse mundo esquisito...
Hei...


Friburgo, Teresópolis, Petrópolis...


Hoje percebo que o assunto do post (a tragédia que se abateu sobre a Serra Fluminense) já saiu da mídia.
Fico aqui sentado e pensando. Todo começo de ano observo uma nova tragédia relacionada aos ajuntamentos populacionais.
O foco aqui não é discutir o inchaço das cidades, seus bolsões de miséria, o destino de pessoas sem qualificação para viver numa sociedade que forçosamente terá que ser mais disciplinada, no que tange a utilização dos recursos para sua sobrevivência, e por conseguinte, muito mais competitiva.
O problema é o seguinte : o poder público nunca organizou o crescimento dos bairros, dotando-os de eixos de transporte público, águas, esgotos, escolas, ambulatórios. Nunca houve um diálogo entre as ansiedades dos que vem e as necessidades de quem os recebe. Não se estabeleceu um pacto.
As eleições vem, e com elas, tratores, varredores de rua, discursos.  Os votos são a única coisa que o poder público busca junto a esses novos cidadãos.
As cidades incham. As eleições acontecem a cada dois, quatro, oito anos...
Como se fosse de repente, acontece o que não estava no script. Mudanças climáticas, resultado de um processo novo (a Revolução Industrial  do século XVIII, menos de trezentos anos atrás...) levam a novo regime de chuvas, elevam e abaixam a temperatura , causam chuvas e secas devastadoras, com ciclos cada vez menores. Os oceanos vão aumentar de volume e sua temperatura vai mudar. É irreversível. O planeta entrou numa era de mudanças, numa velocidade cada vez maior, efeito de mudanças que o homem introduziu sem testar. Nossa vida atual está sendo testada.
Nossos filhos, netos, e demais gerações sempre se perguntarão por que tiveram que enfrentar problemas climáticos cada vez mais complexos.
Onde quero chegar ? Não sou alarmista, mas realista. Creio que chegou a hora de, por um lado, o poder público e o cidadão comum  amadurecerem para a questão. Cidades terão que ser repensadas. Populações terão que ser movidas. Áreas terão que ser preservadas a força. As pessoas não poderão viver onde querem, mas apenas onde é seguro. Leis deverão amparar o uso do solo de modo racional, e regular o modo de gerenciar o crescimento, fiscalizando e cobrando o governante com rigor, assim como punindo com igual rigor aquele que expõe a sua vida a risco, assim como a de sua família. Democracia sim, mas com mais responsabilidade.
Acho que a “ficha ainda não caiu” para a maioria das pessoas. As TV’s já se esqueceram dos mais de oitocentos que morreram no mês passado. Só espero que aqueles que agora esquecem as vítimas não estejam numa área de risco nas próximas estações chuvosas.