Tuas mãos, onde elas estão ?
onde as esconde, quando teus olhos se negam a me olhar ?
Falam-me de ternura, quando sinto seu calor,
os olhos baixos, silenciosamente gritando
que estou ali, para teu prazer...
tuas mãos me fazem rir, me fazem chorar,
sinto-me só sem elas, cujo diálogo de silêncio
meu corpo não se cansa de lembrar...
teu olhar se vai, mas deixa tuas mãos
em meus ombros, meu apoio nessas horas,
em que as palavras não podem exprimir
tudo o que nossos corações gritam,
e nossas almas tramam, em conjunto,
cegas, procurando apalpar o único caminho,
nosso amor louco, que nos atira pela vida afora,
apenas com as mãos para segurar nosso desvario...
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Celebração de um domingo no parque...
Terna algazarra, salpicada de sol...
as crianças com seus folguedos,
os jovens a caminhar, de lá para cá...
o verde é ainda mais verde nessas manhãs voluptosas...
o cimento sem vida é deixado para trás,
nos bairros tristes, onde a vida não tem cor...
as árvores celebram ao vento
seu "fogo de Prometeu"...
à beira do lago, meus olhos bebem a vida,
desconcertados com tamanha beleza...
como não se há de amar a vida,
quando ela toma uma dimensão tamanha,
que não ousamos contrapor com cal e pedras mortas...
amamos o que de nós vive nas árvores,
choramos nossa morte no asfalto da feia periferia,
que sufoca a vida vendendo mera ilusão...
sábado, 29 de janeiro de 2011
Lenço Velho
Surpreendo-me pensando em ti,
Em qualquer hora, no mais impensado ato,
Incompreensível sensação de me sentir seguro,
Pensando em ti, e me aconchego nesse querer,
Como uma prece calada, confortavelmente minha,
E assim vivencio esse amor, tu tão longe,
Eu, perto de tudo que me acalenta o espírito,
Mas me falta o mais importante... tu.
Surpreenda-me uma vez,
Seja sincera consigo mesma,
Abandona a infelicidade, atira-a fora,
Como um lenço velho no cesto de madeira...
Rue Lecourbe, 2
O frio insistia em entrar pelas frestas da janelas antigas, naquele dia de outubro.
A rua, por si só, sempre foi calma. A vizinhança, se bem que nunca a conheci direito, era um pouco mais ruidosa. Uma idosa, minha vizinha de andar, insistia em deixar cair o regador de lata, lá pelas seis da tarde. Mas eu tinha certeza que ouvira um disparo de arma de fogo.
Procurei afastar meus pensamentos de qualquer violência, e de muito mais. Havia me divorciado pela segunda vez, em Bruxelas, e retornara a Paris, ao meu velho apartamento da Rue Lecourbe, 2. Tentava esquecer que nunca fizera as vontades de Liliana, enquanto mentia para mim mesmo que estava feliz, num lugar que detestava, com alguém que pensava totalmente diferente do que eu acreditava. Só queria estar só. Imerso em meus desenganos.
O som, rouco, não ecoara, parecia abafado, mas eu sabia, sem nunca ter usado um revólver, que um disparo havia acontecido. Senti-me acuado, entre as paredes claras e o dia que morria lá fora. Pensei em ligar a TV, mas seria assumir que estava assustado, e desejei provar para meu ego que não estava. Apanhei o jornal e sentei-me no sofá, mas a campainha tocou, duas vezes.
Abri a porta, com cuidado, e vi uma garota, ruiva, que eu não conhecia.
Pediu que a deixasse entrar, com sotaque do norte, e, aparentando achar que eu não entendera, pediu em inglês que eu a deixasse entrar.
Não sei porquê deixei. Perguntou meu nome, antes de responder perguntei o dela. Evelyne.
Jerome, prazer, eu disse. Contou ter vinte e um anos, de Arras, que fora convidada a trabalhar como modelo fotográfico, que brigara com o agente (seu namorado o que seja), ele a colocara para fora do apartamento, e, sim, ela ouvira um tiro. Como estava sem documentos, não queria saber da Polícia.
Tentei acalmá-la, dizendo que se ela nada tinha com o crime não haveria do que se preocupar.
Ela falava, gesticulava, andando pela minha sala, e quando eu disse isso, ela parou, e me encarou. O sorriso mais encantador que eu já vira apareceu.
Perguntei sobre sua bagagem, Evelyne disse que estava no estúdio. Que dormia lá. E rapidamente me pediu para tomar uma ducha. Que discutira, que o suor a incomodava, que iria embora em seguida... eu disse que levaria uma toalha em seguida, enquanto isso, a campainha soava novamente. Evelyne foi para a ducha, com bolsa, capa de chuva e tudo.
Polícia. Um cão farejador. Uma policial fez perguntas sobre o tiro, horário em que eu estava no edifício, se vira alguém. Disseram que chegaram logo após o crime, estavam de passagem, mas uma senhora idosa atirara um regador de plantas na frente da viatura. Coincidência, o cão era treinado e vinha do aeroporto, onde farejava drogas, para seu descanso no canil. Ele me cheirou as mãos, nada de pólvora, nada de nada. Perguntaram sobre se havia alguém na ducha, eu disse que minha filha estava lá, e poderia confirmar tudo o que eu dissera. Pareciam ter pressa, estavam desinteressados nesse caso, disseram apenas para ficar em casa, que a Divisão de Homicídios iria apanhar nossos dados assim que chegassem. Tinham que levar o cão ao canil, e desconfio, desejavam livrar-se do problema, digo, cadáver no apartamento 4. Indaguei quem era, afirmaram ser o dono de uma agência de modelos. O cão queria entrar na minha sala, mas a oficial com a guia o arrastou para a viatura.
Levei a toalha para Evelyne. Bati na porta, duas, três vezes, e ela abriu. Sem nenhum pudor.
Vi a plenitude da juventude de Evy, contra a luz do entardecer. Dei-lhe a toalha, desejando ardentemente ser um pedaço de tecido pela primeira vez na vida. Ela se secou na minha frente, de costas para mim, sem se esconder, com uma atitude de introspecção, que cobrava minha atenção. Ela não queria estar só naquele momento. Queria que eu visse, que soubesse de cada centímetro quadrado de sua pele, de cada minúscula pinta, milhões delas, e de seus cabelos que lembravam uma cascata de chamas. Deixou a toalha cair e me tomou pela mão. Por que não corri ?
Retirou cada peça de minha roupa, arrepiei-me de frio, me levou à ducha, me banhou.
Conduziu-me à cama, e me usou. Me fez refém de sua vontade e me teve dentro dela, com uma segurança inacreditável. Pediu-me que a acariciasse da maneira que ela queria, que a tivesse com brutalidade, do jeito dela. Eu era o macho, mas me senti invadido.
Foi-se às duas da manhã, prometendo voltar pela manhã, pois nosso depoimento seria tomado. Falsos pai e filha.
Mantive a versão dela intacta. Nosso irreprovável desejo de depor fez com que a polícia sequer cogitasse de pedir nossos documentos.
Voltamos para o apartamento, nos amamos e dormimos até o dia seguinte.
Era bem cedo, ela não estava a meu lado. Procurei-a em todos os cantos. Partira, em silêncio. Não deixara sequer um bilhete.
Se eu acreditava nela ? Ainda acredito que ela disse a verdade, nem cogito imaginar quem assassinou o agente. Que eu saiba, o caso foi engavetado.
Mais um dia, e a velha sra. Bartot (a do regador) me pergunta quem era a garota que saiu do meu apartamento às quatro da manhã. Disse que era minha filha. Ivy.
O apartamento continua lá. Aluguei-o para uma fotógrafa. Caso encerrado. Ivy ?
Quem era Evelyne ?
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Passos...
Passas aturdida, por meu banco,
E da calçada coberta de pássaros,
Miro teu caminhar vacilante,
E duas ramas de papel canson,
Em teus braços morenos,
Tisnados do sol do verão mais quente,
Que essa Terra já vivenciou...
Só eu vejo que passou,
Por mim, bem de repente,
Um anjo penitente,
A deslizar seus sapatos mais caros,
Em direção àquilo que te preocupou...
Seja o que for, que seja importante,
Mas para meu olhar,
És ainda mais importante
Esses teus passos, preocupados,
De belos pés bem cuidados,
Que se perdem na multidão...
“Que o céu exista, ainda que nosso lugar seja o inferno.” ( Jorge Luis Borges )
Penso, nesse momento, na possibilidade, que creio remota, de que a vida humana possa durar por mais algumas gerações sobre nosso maltratado planeta.
Lembro-me então da frase que titula essa postagem, e que pode resumir a intervenção do ser humano sobre nosso lar no Universo.
Desde a Revolução Industrial, nos meados do século XVIII, até o presente momento, muito pouco se fez para curar as feridas da Terra agonizante. A indústria, de mãos dadas com o consumo desenfreado, aceleram um processo irreversível.
Algumas pessoas dizem que, com o avanço do conhecimento, novas maneiras de combater a poluição, aliadas a uma legislação ambiental mais rígida, coibirão a catástrofe.
Não é exatamente isso que vejo.
Se alguém puder me mostrar onde estou errado, ficarei aliviado, quase feliz.
Desde a invenção da máquina a vapor, os bens de consumo tomaram todas as esferas da sociedade. Não mais os nobres, mas as pessoas da baixa classe, tornaram-se o alvo da venda dos mais variados produtos. Até a escravidão, um dos mais antigos resquícios de barbarismo sobre a terra, foi erradicada, em nome da transformação de escravos em clientes, compradores em potencial.
Florestas foram erradicadas, rios envenenados.
Massas de trabalhadores transferiram-se do campo para as cidades, pequenas engrenagens de uma máquina colossal. O ar das cidades inchadas tornou-se cinza, e esses burgos, outrora calmos, cresceram como uma célula cancerosa, sem qualquer controle.
Muitos argumentariam que o povo, que não significava grande coisa, a não ser na época da colheita e da guerra, teve acesso aos seus "sonhos de consumo". E tiveram finalmente peso político, e só por isso já valia a pena qualquer consequencia funesta do desenvolvimento industrial. Tudo bem.
Vou direto ao ponto. As massas puderam participar do grande circo econômico. Mas ninguém, massa, governo, elite, preocupou-se com o envenenamento global.
Caminho pelas ruas, vejo pessoas, tanto bem-vestidas como maltrapilhas, atirando seu lixo na calçada, sem qualquer pudor. Mães e filhos, pais e filhas, livrando-se de papéis de bala, embalagens, danificando o ambiente, cada vez mais.
As mudanças de temperatura são cada vez mais evidentes, e não há consenso sobre quais medidas devem ser tomadas. Pois ninguém quer cortar empregos em seus países, pois o dano político votos a menos) faz qualquer político arrepiar-se, até a medula... (se você ainda duvida, veja mais uma pequena evidência do que estou dizendo... http://www.canalrural.com.br/canalrural/jsp/default.jsp?uf=2§ion=Clima&id=3198299&action=noticias)
Se algo não for feito, e logo, não haverá eleição, nem votos, pois as baratas não votam. Mortos não comparecem às seções eleitorais.
Se o céu existir, que fique lá, inalcansável, pois nós o destruiríamos, com nossa gana de consumir.
O inferno parece ser o melhor lugar para nós , assassinos de uma obra divina.
Lembro-me então da frase que titula essa postagem, e que pode resumir a intervenção do ser humano sobre nosso lar no Universo.
Desde a Revolução Industrial, nos meados do século XVIII, até o presente momento, muito pouco se fez para curar as feridas da Terra agonizante. A indústria, de mãos dadas com o consumo desenfreado, aceleram um processo irreversível.
Algumas pessoas dizem que, com o avanço do conhecimento, novas maneiras de combater a poluição, aliadas a uma legislação ambiental mais rígida, coibirão a catástrofe.
Não é exatamente isso que vejo.
Se alguém puder me mostrar onde estou errado, ficarei aliviado, quase feliz.
Desde a invenção da máquina a vapor, os bens de consumo tomaram todas as esferas da sociedade. Não mais os nobres, mas as pessoas da baixa classe, tornaram-se o alvo da venda dos mais variados produtos. Até a escravidão, um dos mais antigos resquícios de barbarismo sobre a terra, foi erradicada, em nome da transformação de escravos em clientes, compradores em potencial.
Florestas foram erradicadas, rios envenenados.
Massas de trabalhadores transferiram-se do campo para as cidades, pequenas engrenagens de uma máquina colossal. O ar das cidades inchadas tornou-se cinza, e esses burgos, outrora calmos, cresceram como uma célula cancerosa, sem qualquer controle.
Muitos argumentariam que o povo, que não significava grande coisa, a não ser na época da colheita e da guerra, teve acesso aos seus "sonhos de consumo". E tiveram finalmente peso político, e só por isso já valia a pena qualquer consequencia funesta do desenvolvimento industrial. Tudo bem.
Vou direto ao ponto. As massas puderam participar do grande circo econômico. Mas ninguém, massa, governo, elite, preocupou-se com o envenenamento global.
Caminho pelas ruas, vejo pessoas, tanto bem-vestidas como maltrapilhas, atirando seu lixo na calçada, sem qualquer pudor. Mães e filhos, pais e filhas, livrando-se de papéis de bala, embalagens, danificando o ambiente, cada vez mais.
As mudanças de temperatura são cada vez mais evidentes, e não há consenso sobre quais medidas devem ser tomadas. Pois ninguém quer cortar empregos em seus países, pois o dano político votos a menos) faz qualquer político arrepiar-se, até a medula... (se você ainda duvida, veja mais uma pequena evidência do que estou dizendo... http://www.canalrural.com.br/canalrural/jsp/default.jsp?uf=2§ion=Clima&id=3198299&action=noticias)
Se algo não for feito, e logo, não haverá eleição, nem votos, pois as baratas não votam. Mortos não comparecem às seções eleitorais.
Se o céu existir, que fique lá, inalcansável, pois nós o destruiríamos, com nossa gana de consumir.
O inferno parece ser o melhor lugar para nós , assassinos de uma obra divina.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
O rádio da vovó
Na velha garagem de nossa casa encontrei muitas coisas antigas, mas nada tão interessante como um velho rádio de caixa de madeira, antigo como o tempo.
Limpei-o cuidadosamente, tentei polir os cromados, fiz o possível para vê-lo funcionar. Algo dentro de mim queria que aquela relíquia funcionasse, nem que fosse por um momento, e que me dissesse algo.
Era o rádio de meu avô.
Vovó contou-me, eu ainda menino, que seu futuro marido, apenas com dezoito anos, embarcou para a guerra, pedindo-lhe que tomasse conta do rádio, que era o que de mais caro possuía. Terminaria os estudos na volta, arrumaria um emprego, casariam, e seriam felizes para sempre.
Ela passava delicadamente uma camada de cera de abelha, toda semana, chovesse ou fizesse sol. Ali ouvia os grandes artistas do momento, recebia ansiosamente as notícias do conflito, aprendia a geografia dos países distantes, percorrida pelas tropas aliadas em perseguição ao Eixo. Chorava, sorria, tornava-se ansiosa, sonhava com a volta do noivo.
Depois de três anos, e uma dezena de cartas, recebeu pela Cruz Vermelha um pequeno maço de cartas, relatando que o autor delas falecera em decorrência de ferimentos recebidos...
Caiu em depressão profunda, e as lágrimas vinham de dia, de noite, acordava quase sempre de madrugada e caia em deslavado pranto.
No fim da guerra, um soldado bem trajado e com o rosto embargado de tristeza bateu na porta da frente.
Era um conhecido de seu amado. Conheceram-se no “front”, tocaram viola, beberam e comeram juntos. Dormiram no mesmo abrigo, rastejaram no mesmo barro. Ele vira o amigo ser atingido nas costas, arrastara-o por centenas de metros, até o socorro. Sofrera a privação da amizade, e sentira a sua perda. Ainda estava triste.
Trouxe para ela a fotografia que ele sempre levava, autografada por ela. E uma última carta, na qual pedia que ele cuidasse dela, dos pais e do seu amado rádio. Titubeara um pouco, mas decidira-se, e ali estava ele.
Conversaram, cruzaram histórias, informaram-se sobre a doce personalidade do finado.
Tornaram-se amigos, confidentes, reverenciando a memória de um rapaz corajoso, leal, sincero.
E essa dolorosa amizade tornou-se calor humano, companhia delicada e inseparável, amparo e coração aberto, e então o amor veio, com calma mas de maneira definitiva.
Esse amigo tornou-se meu avô. Ela, minha avó.
Nunca encontrei o retrato do noivo, mas imagino que ele esteja feliz, esteja onde estiver.
Décadas depois, meus avós já passados também, encontro seu rádio. O rádio deles, dos três.
E ele funcionou, depois de muito trabalho. Imagino por momentos a emoção dessas três pessoas, sentados à roda do aparelho, suas vidas tomadas pela música e pela informação, os casais de mãos dadas a saber os destinos do mundo e da nação por simples ondas eletromagnéticas, o hálito e o olhar entrelaçados de emoção. Amar talvez seja um destino, uma causa das pessoas. Um dever para conosco.
O brilho do rádio me trouxe à realidade. Por acaso, e por fortuito acaso do momento, aqui estou. Por causa desse rádio.
Viver trancado com a consciência...
Uma conhecida minha voltou a falar comigo ontem.
Ela era mãe de uma linda garota de 18 anos, olhos claros, azuis, se me recordo, inteligente, havia feito intercâmbio no Canadá, adorava ler Cecília Meirelles e era apaixonada por um cãozinho chamado Lupi.
Essa garota buscou o suicídio, três anos atrás, e desde então a mãe lutou desesperadamente para se manter viva , mas antes disso, voltar a viver normalmente. Deixamos de nos falar depois que eu lhe disse que a culpa não era dela ( da mãe ), e sim da filha, que, apesar de todos os cuidados, morais e materiais, falhara em viver, por não encontrar respostas fáceis no que diz respeito à própria vida.
Penso que pode ter sido cruel de minha parte, mas acredito que minha amiga foi cuidadosa demais, no que tange à sua finada filha (olho agora para o retrato, lindo, da garota, em seus melhores dias).
Vejamos, a mãe trabalhava dois períodos, dava aulas particulares, dera um automóvel zero para a garota, que fazia inglês, balé, equitação, pintura, entre outras coisas que não sei. Ela dava tudo para a menina, que recebia sem contrapartida, em seu quarto rosa e dourado, de princesa. Bastava à garota usufruir das benesses de uma vida de classe média alta, sem suor.
Minha amiga nascera pobre, no interior do estado, filha de italianos paupérrimos, batalhadores, que transmitiram à filha o pouco de educação, discernimento e valores, mas principalemte a racionalidade : só podemos ter o que conquistamos com nosso trabalho, com nossa busca interior. Minha amiga chegou a devolver ao noivo o anel que ele lhe dera, fazendo-o prometer que aplicasse os recursos que gastara nele numa aplicação para o futuro.
A filha de minha amiga se matou. Porque o namorado a deixara. Seu mundo não era suficientemente dourado. Ela queria que tudo fosse cor-de-rosa, conforme ela pensava. As coisas não são assim. Quando a primeira coisa não terminou como ela sonhava, acabou-se a vontade de brincar de viver.
Garota mimada e covarde. Ingênua e fútil, e acima de tudo, egoísta. Não amava aqueles que a cercaram de carinho, preferiu deixar a brincadeira de viver de lado.
Eu disse essas mesmas palavras a minha amiga, e ela me disse que nunca mais desejaria falar comigo. Calei-me e aqui estou.
Ontem ela me encontrou na rua, e, meio sem jeito, fez sinal para que me aproximasse.
Disse que estava melhor, e que refletira sobre o que eu dissera. E que, em resumo, eu estava certo. Conversamos sobre o tempo chuvoso, sobre o calor atordoante, sobre idas e vindas. Conversamos como velhos amigos, sem queixas, sem amargor.
Fui para casa feliz. Aprendi mais um pouquinho sobre as pessoas. Sobre o inferno da alma humana.
Ela era mãe de uma linda garota de 18 anos, olhos claros, azuis, se me recordo, inteligente, havia feito intercâmbio no Canadá, adorava ler Cecília Meirelles e era apaixonada por um cãozinho chamado Lupi.
Essa garota buscou o suicídio, três anos atrás, e desde então a mãe lutou desesperadamente para se manter viva , mas antes disso, voltar a viver normalmente. Deixamos de nos falar depois que eu lhe disse que a culpa não era dela ( da mãe ), e sim da filha, que, apesar de todos os cuidados, morais e materiais, falhara em viver, por não encontrar respostas fáceis no que diz respeito à própria vida.
Penso que pode ter sido cruel de minha parte, mas acredito que minha amiga foi cuidadosa demais, no que tange à sua finada filha (olho agora para o retrato, lindo, da garota, em seus melhores dias).
Vejamos, a mãe trabalhava dois períodos, dava aulas particulares, dera um automóvel zero para a garota, que fazia inglês, balé, equitação, pintura, entre outras coisas que não sei. Ela dava tudo para a menina, que recebia sem contrapartida, em seu quarto rosa e dourado, de princesa. Bastava à garota usufruir das benesses de uma vida de classe média alta, sem suor.
Minha amiga nascera pobre, no interior do estado, filha de italianos paupérrimos, batalhadores, que transmitiram à filha o pouco de educação, discernimento e valores, mas principalemte a racionalidade : só podemos ter o que conquistamos com nosso trabalho, com nossa busca interior. Minha amiga chegou a devolver ao noivo o anel que ele lhe dera, fazendo-o prometer que aplicasse os recursos que gastara nele numa aplicação para o futuro.
A filha de minha amiga se matou. Porque o namorado a deixara. Seu mundo não era suficientemente dourado. Ela queria que tudo fosse cor-de-rosa, conforme ela pensava. As coisas não são assim. Quando a primeira coisa não terminou como ela sonhava, acabou-se a vontade de brincar de viver.
Garota mimada e covarde. Ingênua e fútil, e acima de tudo, egoísta. Não amava aqueles que a cercaram de carinho, preferiu deixar a brincadeira de viver de lado.
Eu disse essas mesmas palavras a minha amiga, e ela me disse que nunca mais desejaria falar comigo. Calei-me e aqui estou.
Ontem ela me encontrou na rua, e, meio sem jeito, fez sinal para que me aproximasse.
Disse que estava melhor, e que refletira sobre o que eu dissera. E que, em resumo, eu estava certo. Conversamos sobre o tempo chuvoso, sobre o calor atordoante, sobre idas e vindas. Conversamos como velhos amigos, sem queixas, sem amargor.
Fui para casa feliz. Aprendi mais um pouquinho sobre as pessoas. Sobre o inferno da alma humana.
Um poema torto para começar o dia
Rasgaste meu peito com tua beleza
e meu silêncio só conspira para teu cinismo...
sabes que me tens e sou teu, agora e sempre...
as folhas da calçada sabem teu nome,
e meu coração inquieto se arrepende
de ter aberto a porta a ti,
pois agora que entraste,
meus segredos são teus também...
e meu silêncio só conspira para teu cinismo...
sabes que me tens e sou teu, agora e sempre...
as folhas da calçada sabem teu nome,
e meu coração inquieto se arrepende
de ter aberto a porta a ti,
pois agora que entraste,
meus segredos são teus também...
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