Uma conhecida minha voltou a falar comigo ontem.
Ela era mãe de uma linda garota de 18 anos, olhos claros, azuis, se me recordo, inteligente, havia feito intercâmbio no Canadá, adorava ler Cecília Meirelles e era apaixonada por um cãozinho chamado Lupi.
Essa garota buscou o suicídio, três anos atrás, e desde então a mãe lutou desesperadamente para se manter viva , mas antes disso, voltar a viver normalmente. Deixamos de nos falar depois que eu lhe disse que a culpa não era dela ( da mãe ), e sim da filha, que, apesar de todos os cuidados, morais e materiais, falhara em viver, por não encontrar respostas fáceis no que diz respeito à própria vida.
Penso que pode ter sido cruel de minha parte, mas acredito que minha amiga foi cuidadosa demais, no que tange à sua finada filha (olho agora para o retrato, lindo, da garota, em seus melhores dias).
Vejamos, a mãe trabalhava dois períodos, dava aulas particulares, dera um automóvel zero para a garota, que fazia inglês, balé, equitação, pintura, entre outras coisas que não sei. Ela dava tudo para a menina, que recebia sem contrapartida, em seu quarto rosa e dourado, de princesa. Bastava à garota usufruir das benesses de uma vida de classe média alta, sem suor.
Minha amiga nascera pobre, no interior do estado, filha de italianos paupérrimos, batalhadores, que transmitiram à filha o pouco de educação, discernimento e valores, mas principalemte a racionalidade : só podemos ter o que conquistamos com nosso trabalho, com nossa busca interior. Minha amiga chegou a devolver ao noivo o anel que ele lhe dera, fazendo-o prometer que aplicasse os recursos que gastara nele numa aplicação para o futuro.
A filha de minha amiga se matou. Porque o namorado a deixara. Seu mundo não era suficientemente dourado. Ela queria que tudo fosse cor-de-rosa, conforme ela pensava. As coisas não são assim. Quando a primeira coisa não terminou como ela sonhava, acabou-se a vontade de brincar de viver.
Garota mimada e covarde. Ingênua e fútil, e acima de tudo, egoísta. Não amava aqueles que a cercaram de carinho, preferiu deixar a brincadeira de viver de lado.
Eu disse essas mesmas palavras a minha amiga, e ela me disse que nunca mais desejaria falar comigo. Calei-me e aqui estou.
Ontem ela me encontrou na rua, e, meio sem jeito, fez sinal para que me aproximasse.
Disse que estava melhor, e que refletira sobre o que eu dissera. E que, em resumo, eu estava certo. Conversamos sobre o tempo chuvoso, sobre o calor atordoante, sobre idas e vindas. Conversamos como velhos amigos, sem queixas, sem amargor.
Fui para casa feliz. Aprendi mais um pouquinho sobre as pessoas. Sobre o inferno da alma humana.
O que dizer Inferno?
ResponderExcluirO Inferno é um “estado-lugar” da alma humana que, após o juízo particular, rejeita cabalmente a Deus, irá para um estado de aversão à Santíssima Trindade, que a respeitará e se ausentará. É a total ausência de Deus, porque assim aquela alma humana desejou. Baseando-se nisso, podemos ver como nós somos responsáveis pelas nossa escolhas... Podemos escolher o caminho do inferno ou do céu... Ou podemos ficar entre eles sem escolhas...